Quando um governante passa por cima da lei para proibir um direito legítimo da população, o direito de escolha
Nos últimos meses, a cidade de São Paulo voltou ao centro de uma discussão que parecia encerrada há quase 3 anos: a liberação do mototáxi, agora impulsionada por gigantes do transporte por aplicativo como Uber e 99.
A disputa envolve decisões judiciais recentes, interesses políticos, a postura da Prefeitura, a atuação do SindimotoSP e, claro, os trabalhadores, que acabam no meio de um jogo de forças que define se poderão ou não atuar legalmente na capital.
A seguir, você confere um panorama completo, atualizado e documentado sobre o que realmente está acontecendo — e por que a situação se tornou tão controversa.
O Julgamento que Mudou Tudo: TJ-SP Derruba Proibição e Dá Prazo à Prefeitura
Em setembro de 2025, o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou o decreto municipal que proibia mototáxis na capital.
A decisão foi unânime e categórica:
- O município pode regulamentar, mas não pode proibir o serviço.
- A Prefeitura recebeu um prazo de 90 dias para criar uma regulamentação adequada.
O prazo, portanto, venceria no início de dezembro de 2025.
Essa decisão abriu o caminho legal para que Uber e 99 planejassem retomar o serviço — caso a Prefeitura não regulamentasse a tempo.
E não parou por aí.
STF Entra em Cena e Reforça a Legalidade do Mototáxi
Em novembro de 2025, o Supremo Tribunal Federal anulou uma lei estadual que dava aos municípios o poder de restringir ou proibir serviços como o mototáxi por aplicativos.
O entendimento do STF foi claro:
- A competência para legislar sobre transporte é da União.
- Estados e municípios não podem criar proibições genéricas que impeçam apps de oferecer o serviço.
Com isso, todas as barreiras jurídicas que sustentavam a proibição foram derrubadas.
Em outras palavras:
A razão estava do lado do retorno do mototáxi.
Regulamentação Em Discussão: Câmara Apresenta PL com Regras Rígidas
Em 3 de dezembro de 2025 — a poucos dias do prazo final — a Câmara Municipal apresentou o relatório do Projeto de Lei 1487/2025, que cria as regras para o funcionamento do mototáxi em São Paulo.
O texto, no entanto, trouxe diversas restrições consideradas excessivas por especialistas e entidades do setor, como:
- Obrigatoriedade de placa vermelha.
- Proibição de circular em dias de chuva forte.
- Bloqueio do serviço no Centro Expandido.
- Proibição de usar faixas de ônibus.
- Exigência de pontos fixos de embarque e desembarque.
- Diversos cursos e certificações adicionais.
Na prática, segundo entidades do setor, isso inviabilizaria o serviço, mesmo que tecnicamente regulamentado.
Uber e 99 Anunciam Retorno: 11 de Dezembro de 2025
Com o fim do prazo da Justiça se aproximando — e sem regulamentação aprovada — Uber e 99 anunciaram publicamente que retomariam o mototáxi em 11 de dezembro de 2025.
Do ponto de vista jurídico, a decisão tinha fundamento:
- O decreto municipal que proibia o serviço já havia sido invalidado.
- A lei estadual que favorecia proibições locais foi derrubada pelo STF.
- A Prefeitura estava descumprindo o prazo definido pelo TJ-SP.
Ou seja, para as empresas, o serviço poderia voltar.
Mas aí veio a reação.
Prefeitura Reage, Proíbe Novamente e Entra com Recurso
Mesmo sem respaldo jurídico sólido, a Prefeitura de São Paulo anunciou que não autorizaria a volta do mototáxi e que já havia recorrido da decisão que derrubou sua proibição.
A gestão municipal afirmou, ainda, que:
- Continuaria fiscalizando e apreendendo motocicletas.
- Considera o retorno “irresponsável”.
- Mantém a proibição até decisão final do STF — mesmo que decisões anteriores já tenham favorecido a liberação.
Em resumo:
A Prefeitura tenta impedir um serviço que a Justiça já disse que ela não pode proibir.
A Prefeitura Usurpa o Direito de Ir e Vir
O que a Prefeitura de São Paulo faz, ao insistir em barrar o mototáxi mesmo após decisões judiciais, é usurpar o direito básico das pessoas de escolher como desejam se locomover. Um serviço de transporte — seja ele moto, ônibus, trem, metrô, carro, avião ou navio — é opcional. Ninguém é obrigado a utilizar uma motocicleta, assim como ninguém é obrigado a entrar em um avião ou a pegar um metrô. Cada pessoa assume livremente o nível de risco que está disposta a enfrentar. Há quem jamais viaje de avião por medo, mesmo que paguem para ela viajar, e há quem ame saltar de paraquedas, surfar, esquiar ou andar de moto todos os dias. O risco existe — mas a escolha é individual.
Se a Prefeitura realmente acredita que motos são perigosas ao ponto de proibir o mototáxi, então deveria ser coerente e retirar todas as motocicletas da cidade — incluindo as utilizadas por policiais, agentes públicos e pela própria administração municipal. Mas ela não faz isso. Em vez disso, escolhe proibir apenas o que lhe é inconveniente. Essa seletividade revela que não se trata de segurança, e sim de um controle arbitrário sobre a mobilidade da população. O Papel do SindimotoSP — e a Crítica dos Próprios Motociclistas
A posição do sindicato surpreendeu muitos trabalhadores. O SindimotoSP publicou uma nota orientando que:
- Motociclistas não atendam às chamadas de Uber e 99 no dia 11.
- Quem desobedecer será autuado e pode ter a moto apreendida.
- A categoria deve seguir apenas os “canais oficiais da Prefeitura”.
Para parte da categoria, a postura do sindicato soa contraditória:
- Em vez de lutar pela ampliação das oportunidades de trabalho, parece reforçar a postura da Prefeitura que está agindo fora da lei, rasgando a constituição.
- Motociclistas independentes alegam que o sindicato tem interesses próprios — e que não representa a vontade real da categoria, que deseja trabalhar de forma legal e segura.
Essa crítica se multiplicou nas redes sociais.
Um Cenário Lamentável — e Evitável
Hoje, o que vemos é:
- A Justiça dizendo “pode”.
- As empresas dizendo “vamos operar”.
- Os trabalhadores pedindo para trabalhar.
- E a Prefeitura dizendo “não, e pronto”.
O mais chocante é que a cidade tem:
- tráfego intenso,
- demanda crescente por deslocamentos rápidos,
- motociclistas buscando renda,
- consumidores apoiando a modalidade,
- decisões judiciais favoráveis.
E mesmo assim, o poder público se recusa a modernizar o sistema de mobilidade.
O resultado?
Um impasse que prejudica todos — exceto aqueles que têm interesse em manter o status quo.
Conclusão: O Mototáxi Vai Voltar — a Questão é Quando
O retorno do mototáxi em São Paulo não é mais um debate técnico ou jurídico.
A Justiça já decidiu. A lei já mudou. As empresas já estão prontas.
O que impede hoje o serviço é uma decisão política — tomada pela Prefeitura e reforçada por um sindicato que, segundo críticas, não está defendendo os trabalhadores.
A tendência é clara:
- O STF deve concluir o julgamento mantendo a liberação.
- A pressão popular e do setor privado aumenta a cada dia.
- A Câmara terá de votar a regulamentação — cedo ou tarde.
Portanto, o mototáxi vai voltar.
A única dúvida é quando — e quantos trabalhadores serão prejudicados até lá.
📚 Fontes e decisões que suportam o argumento
- A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) de 3 de setembro de 2025, que declarou inconstitucional o decreto municipal que proibia mototáxi na capital e deu prazo de 90 dias para regulamentação. Migalhas+1
- A recusa do TJ-SP em suspender o prazo de regulamentação — ou seja, o tribunal manteve que, mesmo com decisões favoráveis, a prefeitura precisa regulamentar, não proibir. CNN Brasil+1
- A liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), via decisão do ministro Alexandre de Moraes, que suspendeu a vigência da Lei 18.156/2025 — norma estadual que dava aos municípios (como a capital) poder de proibir ou condicionar funcionamento de mototáxis por aplicativo. A justificativa: competência para legislar sobre trânsito e transporte é da União, e a lei impunha uma “barreira de entrada” indevida para atividade econômica. Migalhas+2Migalhas+2
- Reportagens que mostram que, mesmo após decisões favoráveis, a prefeitura e o órgão de defesa do consumidor (Procon‑SP) aplicaram multas a empresas pelo oferecimento de mototáxi em período considerado irregular. Isso demonstra que a proibição continuou sendo aplicada na prática. Agência SP+2Brasil Econômico+2
- Relatos de que a regulamentação municipal proposta (pelo menos até novembro/dezembro de 2025, data do debate) ainda não havia sido aprovada de forma definitiva — o que evidencia que a paralisação do serviço depende de decisão política, e não de barreira técnica ou jurídica definitiva. Diário do Grande ABC+1
- Matéria da SindimotoSP – https://sindimotosp.com.br/2025/12/04/prefeitura-de-sp-nao-autoriza-volta-do-mototaxi-dia-11-12-conforme-uber-e-99-estao-divulgando-sindimotosp-orienta-trabalhadores-obedecerem-determinacao-municipal/







